segunda-feira, 22 de novembro de 2010

RETRATOS EM BRANCO E AFRODESCENDENTE

Severino trabalhava há cinco anos na portaria daquele prédio da avenida Atlântica. Era um sujeito educado e querido pelos moradores desde que veio do nordeste. Solteiro, morava num quarto ao lado da garagem. Nunca havia passado por nenhum incidente. Até que aquele rapaz chegou. Rusevelt deu “boa tarde”e foi logo apertando o botão do elevador.

- Oxe, vai aonde ?

- Tô indo pro oitavo andar.

- O elevador é aquele outro lá atrás.

- Por quê?

- Esse aí tá com defeito.

Rusevelt foi se encaminhando para o corredor, quando o elevador principal chegou. Dona Áurea, uma simpática senhora abriu a porta.

- Ué, o elevador tá funcionando! – constatou o rapaz que logo correu para  segurar a porta.
Tarde demais. Severino foi mais rápido e fechou-a.

- Por que eu não posso subir nesse elevador? Tô indo na casa do Lucas, sou amigo dele lá da praia.

- Se é amigo da praia, tem que ser pelo de serviço.

- Peraí, mas eu não vim da praia. Não tá vendo que eu nem tô molhado?

A senhora, que tinha dificuldade para andar , ainda não tinha chegado à porta do prédio, ouviu o bate-boca e interveio.

- Severino, que coisa horrível. Você está mandando o rapaz para o elevador de serviço só porque ele é negro! Pois fique sabendo que neste prédio não admitimos este tipo de discriminação. Não vemos a cor de moradores, e visitantes ou de funcionários. Para nós do edifício Beethoven é como se todos fossem….fossem verdes! Deixe o menino subir!

Dona Áurea deu as costas e saiu. Antes que Rusevelt entrasse no elevador, Severino barrou novamente sua entrada.

- Você aí, ô verde escuro, pelo elevador lá de trás.

Do blog do La Peña, da turma do Casseta.

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Desculpe a necessidade de verificação de palavras. Mas dado o número absurdo de spam que recebo, fui obrigado a adotar essa prática chata.